Como diria o cientista político Aime Cesaire, a violência que você vê na tela do celular um dia vai bater na porta da sua casa.
A violência que você vê não é uma falha, ela é proposital: quanto mais violento onde se vive, mais se gasta com segurança.
A falta de investimento público em segurança é um projeto antigo em aliado com negócios imobiliários, seguradoras e corporações de vigilância. Em 2024 os estados firmaram quase R$ 1 bi em contratos sem licitação, 350 milhões em serviços de tecnologia, internet e informática e centenas de contratos acima de 1 milhão incluindo Mato Grosso, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais.
Avaliando o caso do Rio: Só na Baixada Fluminense (RJ), 70% das empresas não tem licitação pra funcionar. O Governo do RJ e a Firjan – um grupão de empresários – fizeram uma parceria público-privada para conservação e SEGURANÇA do Arco Metropolitano. Sabendo que só há lucro quando há INSEGURANÇA, o que você espera dessa parceria? Isso sem mencionar que em 2019 o nosso querido governador João Dória tentou enfiar goela abaixo uma PPP (Parceria Públic-Privada) que abriria as porteiras pra PRIVATIZAÇÃO DE PRESÍDIOS. A intenção era terceirizar os serviços internos, serviços internos como alimentação, limpeza, manutenção, assistência médica e laboral dos presos, enquanto o Estado ficaria responsável pela custódia e segurança armada. A ideia é que com a infra-estrutura dos complexos presidiários com baixíssima qualidade piorariam a qualidade de vida do detento, aumentando a reincidência e tornando o crime um negócio altamente lucrativo.
A fragmentação da cidade — os muros, as portarias, os condomínios blindados — não é apenas um reflexo do medo, mas o sintoma de um modelo econômico que transformou a insegurança em negócio. À medida que o Estado se retira da função de garantir segurança pública, o cidadão é empurrado para o mercado da proteção privada: câmeras, alarmes, cercas elétricas, aplicativos de vigilância. O medo virou assinatura mensal.
Por que esse é um problema de TODOS NÓS?
As seguradoras ocupam o espaço deixado pelo poder público. A cada aumento da violência, sobem também os prêmios de seguro — de automóveis, de residências, de celulares. O risco é calculado e precificado, e quem pode pagar, paga. Quem não pode, fica à mercê. A desigualdade se traduz até na probabilidade de ser assaltado: a segurança se torna um privilégio econômico, não um direito comum.
Num ambiente violento, até o cotidiano mais simples — atravessar a rua, usar um celular, voltar tarde do trabalho — exige gasto extra. E esse gasto, somado milhões de vezes, alimenta um mercado bilionário. A violência, assim, cumpre uma função política e econômica: ela obriga o cidadão a pagar por segurança, a privatizar sua sobrevivência, e a naturalizar o abandono estatal.